Categoria 3 | Rafael Ribeiro

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Esta proposta de intervenção urbana consiste na projeção de um vídeo na empena de um prédio em área de grande circulação em Curitiba, em três ocasiões e durante cerca de duas horas cada vez. O vídeo, intitulado ‘Vazios’, foi realizado a partir do material de arquivo da bióloga e pesquisadora Beatriz Beisiegel, que há anos vem instalando câmeras automatizadas em áreas de mata atlântica do vale do ribeira, região entre o nordeste do Paraná e o sul do estado de São Paulo. O vale do ribeira concentra a maior área contígua de mata atlântica preservada do Brasil, um bioma que vem sendo devastado nos últimos séculos.

A bióloga e sua equipe instalaram as câmeras para tentar monitorar a população de cerca de 20 onças pintadas que ainda vivem na região, ameaçadas pela caça esportiva. As câmeras, chamadas de “armadilhas” por terem sido desenvolvidas para a caça, são instaladas no tronco de árvores e acionadas por movimento. Quando a câmera detecta movimento, ela grava por 15 segundos. Quando os pesquisadores voltam para retirar as imagens gravadas pela câmera, deparam-se com muitas imagens de outros animais que passaram por ali, que não apenas a onça que querem registrar, e também com imagens que denominam “vazios”, por não conterem animais. Esses vídeos “vazios” são imediatamente descartados pelos pesquisadores, mas são justamente esses “vazios” que interessam ao artista.

Curioso que nossa cultura ocidental eurocêntrica tenha passado a enxergar a natureza, nesse caso uma das principais florestas tropicais do planeta, como vazios. Nossa cultura parece ter horror ao mundo, ao não-humano. E é essa cultura antropocêntrica, centrada no humano como um ser excepcional e superior às outras espécies, que nos traz ao Antropoceno, a atual época da crise ecológica global. Assim, esse vídeo de cerca de 7 minutos rodado em loop reúne os “vazios” gravados por uma das câmeras ao longo de um ano na mata. Sempre no mesmo enquadramento, através das imagens contemplamos a mata atlântica, em uma visão noturna, quase prateada, que nos remete a uma estética de câmeras de vigilância. Quem olha, o que olha, e por que olha? A área de Curitiba, até a colonização, era coberta de mata atlântica. Esse vídeo, a ser rodado em área de circulação de Curitiba, devolve a floresta à cidade, e convida a refletir sobre o momento em que estamos vivendo.

 

Rafael Ribeiro. 

 

 

 

Título

Vazios, 2020​​​

Artista Rafael Ribeiro
Técnica

Vídeo

​​
Duração / Tamanho 6'23''
Aquisição  
No de Registro 2021/1830

 

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Rafael Ribeiro

é mestrando em Antropologia da Natureza pela Universidade de São Paulo (USP) e desde 2016 pesquisa e atua nas intersecções entre arte, meio ambiente e educação. Sua prática artística tem envolvido temas da ecologia e da relação dos seres humanos com a natureza, em especial o Antropoceno e a regeneração da mata atlântica. Como parte de sua pesquisa, vem realizando visitas e trabalhando em conjunto com cientistas, universidades, ONGs e comunidades tradicionais, dentro de um engajamento mais amplo como ativista ambiental.

Desde o final de 2019 vem construindo a instalação “Clareira”, um projeto de restauração da mata atlântica com os moradores da Ocupação Nove de Julho em São Paulo. Em 2019, expôs Rua Guarani no SESC Santana, projeto fotográfico realizado no bairro do Bom Retiro em São Paulo, como parte da exposição coletiva “Raiz, Memória e Humanidade”. 
 

 

 

GALERIA DE IMAGENS

  • Registro intervenção Rafael Ribeiro
    Registro intervenção Rafael Ribeiro
    Registro intervenção Rafael Ribeiro
    Registro intervenção Rafael Ribeiro
    Foto: Kraw Penas

    Foto: Kraw Penas
    Registro intervenção Rafael Ribeiro
    Foto: Kraw Penas

    Foto: Kraw Penas
    Registro intervenção Rafael Ribeiro